quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A ilusão consumista



Confesso que fiquei pasmado com o ridiculíssimo espectáculo de apresentação de um novo modelo da Nokia - o Lumia 800, salvo erro. A cena assemelha-se em tudo às sessões de uma seita religiosa: um dos membros da empresa, num palco, entra numa espécie de êxtase místico para gáudio de uma plateia ululante que aplaude com entusiasmo pateta a apresentação do telemóvel como se de um milagre ou de uma revelação divina se tratasse.
Este lamentável episódio sintetiza bem os tempos que correm: o endeusamento da tecnologia, alimentado pelas necessidades artificiais que a sociedade de consumo, através de uma publicidade agressiva, cria nas pessoas, que se pensam mais felizes por possuirem o mais recente modelo de telemóvel, o carro topo de gama ou o computador com mais gigas. Como bem refere Rob Riemen no seu livro Nobreza de Espírito. Um Ideal Esquecido - cuja leitura recomendo vivamente - "os meios de comunicação de massas e a economia social-capitalista, proclamam as virtudes do que é novo, veloz e progressista - tudo ao nível dos bens de consumo - e depois oferecem-nos a liberdade de sermos felizes com as nossas maquinetas."
Em suma, procuramos na tecnologia e nos gadgets o ersatz das coisas que realmente importam, mas de cujo alcance - por exigir esforço, sacrifício, abnegação - desistimos, procurando, em vez disso, uma falsa felicidade, de fácil acesso, que se compra em supermercados e centros comerciais, mas que nos desqualifica enquanto humanos.

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