terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Preso por ter cão...

Em certos blogues, o Dr. Mário Soares é criticado por, ao sofrer uma indisposição, não ter recorrido a um hospital público, atitude tida por incoerente por parte de um defensor do SNS. Todavia, se o tivesse feito, choveriam comentários acusando o Dr. Soares de, possuindo recursos para recorrer a um estabelecimento de saúde privado, ter ocupado uma cama que deixaria assim de estar disponível para um doente de poucos recursos. De facto, criticar é um exercício muito fácil.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Iniquidades

A taxa de imposto exigida em França aos cidadãos com rendimentos superiores a um milhão de euros é uma iniquidade. O Estado não pode, por uma elementar questão ética, reter três quartos dos rendimentos dos seus cidadãos, por muito elevados que sejam. Assim entendeu, e bem, o Tribunal Constitucional e assim devia entender, se tivesse uma réstia de bom senso, o Presidente Hollande.
Porém, a atitude de alguns dos atingidos por esta medida não é menos iníqua. A solicitação feita por alguns de naturalização em países com taxas de imposto mais baixas é, antes de mais, uma demissão cívica. De facto, estes cidadãos, seguramente pessoas influentes, deviam ter optado não por sair do país onde nasceram e fizeram a sua fortuna, mas combater com os meios que o próprio Estado – porque democrático – lhes garante, a absurda lei.
Por outro lado, ao abandonarem a França, manifestam uma atitude egoísta, pois muitos dos seus concidadãos, menos ricos do que eles, pagam também taxas elevadas mas, contrariamente a eles, não têm nem suficientes meios financeiros, nem uma rede de influências que lhes permitisse, se assim o entendessem, sair do país.
O caso de Gérard Depardieu é lamentavelmente irónico. Se tivesse nascido no país cuja nacionalidade requereu – a Rússia – teria crescido num país comunista, onde não havia liberdade de expressão e o artistas desafectos ao regime eram perseguidos e forçados ao exílio ou condenados à prisão e à miséria. Se fosse russo de nascença, Depardieu não teria feito a carreira que o tornou famoso e lhe permitiu arrecadar a fortuna que fez dele alvo da lei fiscal francesa. Inclusivamente, não teria tido a liberdade para desempenhar muitos dos papéis que levou à cena, a menos que se exilasse num país livre, por exemplo, a França, de que agora quer fugir.
A fuga aos abusos do Estado só é admissível quando a vida ou a liberdade do cidadão está em causa. Não sendo este o caso, a única atitude digna é permanecer no país e combatê-los com coragem e determinação. Em França, contrariamente à União Soviética e, muito provavelmente, à Rússia de Putin, isso é possível. Depardieu, e todos aqueles que tomaram uma atitude semelhante à sua, revelam falta de coragem e de sentido patriótico e cidadão, valores de que os franceses, curiosamente, tanto se gabam.