terça-feira, 25 de outubro de 2011

Do oportunismo

Uma parte do grupo parlamentar conservador britânico está a pressionar o primeiro ministro Cameron para realizar um referendo sobre a permanência do Reino Unido na UE.
É histórico, e em larga medida justificado, o cepticismo britânico em relação ao Continente: sempre que uma potência europeia assumiu uma posição hegemónica, as ilhas britânicas foram ameaçadas pela sua ambição. Foi assim com a Espanha de Filipe II, com a França de Napoleão e com a Alemanha de Hitler, felizmente sempre travados pelas admiráveis resiliência e combatividade dos súbditos de Sua Majestade.
A adesão do Reino Unido à então CEE foi relativamente tardia, em parte pela oposição de De Gaulle, mas também pelo pouco entusiasmo dos ingleses em relação a uma integração europeia que alguns ideólogos mais entusiastas pretendiam tivesse como finalidade a constituição de uma federação de Estados, projecto de todo contrário aos interesses britânicos – que sempre privilegiaram a relação com os países da Commonwealth e com os Estados Unidos – e aos seus já referidos temores em relação a possíveis novas tentações das potências continentais. Todavia, há já cerca de quatro décadas que pertence à União, de cuja pertença certamente beneficiou em termos económicos, pertença essa que se assume tanto mais pertinente quanto o projecto europeu abrange cada vez mais países, além de representar os valores da liberdade, do império da lei e do escrupuloso respeito pelos direitos humanos, património ético de que o Reino Unido é pioneiro e que partilha com os demais Estados da União.
Parece portanto puramente oportunista este movimento em defesa de um referendo, procurando beneficiar da crise que a UE presentemente vive. É uma atitude pouco digna do Partido Conservador e do seu passado, pois foi um primeiro ministro conservador – Winston Churchill – que conduziu as forças armadas britânicas para o Continente, liderando a resistência europeia ao domínio nazi, cujo projecto insano pretendia aniquilar política e civilizacionalmente a Europa.

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