domingo, 29 de julho de 2012

Uma questão de civilização




Enquanto por cá alguns, sem fazerem a mínima ideia do que estão a falar, defendem a desarticulação do SNS, no Reino Unido presta-se homenagem ao serviço público de saúde na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos, elencando-o como uma das grandes conquistas do país, a par da Revolução Industrial e da indústria do entretenimento. De facto, temos ainda que percorrer um longo caminho até chegarmos aos calcanhares daquela gente.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Ironias

A Catalunha, que no ano passado proibiu as touradas por serem uma festa espanhola e que há meses se propunha eliminar o nome do Rei Juan Carlos da rua de uma das suas cidades, vem agora pedir assistência financeira ao governo de Madrid. Irónico, não?

sábado, 21 de julho de 2012

Bravo, Miss Casey!

 

Problem families 'have too many children’

Mothers in large problem families should be “ashamed” of the damage they are doing to society and stop having children, a senior government adviser warns today.

Finalmente, alguém parece ter tido a coragem de chamar à responsabilidade as famílias eufemisticamente designadas de "problemáticas". É de esperar que a brigada da correcção política fuzile politicamente esta representante do governo britânico com recurso ao seu arsenal demagógico. Mas uma coisa é certa: o seu diagnóstico sobre as famílias que vivem às custas do Estado Social há várias gerações e que se recusam a qualquer forma de integração na sociedade que sustenta o seu modo de vida, é pragmático e realista e por isso digno de elogio. É ver a série da BBC Shameless ou a personagem caricatural Vicky Pollard na Little Britain, para perceber do que esta senhora fala. Parabéns, Miss Casey, pela coragem e frontalidade!

terça-feira, 17 de julho de 2012

É a mão invisível, estúpido!

Fees that can halve the value of your pension

O PS e o Altar

As declarações de D. Januário Torgal Ferreira ontem na TVI24 são inconcebíveis. Não só destratou os membros do Governo – politicamente questionável, como todos em democracia, mas legítimo, porque eleito pelo voto do povo – como, de uma assentada, pôs em causa a honestidade de todos os seus membros, leviandade inaceitável. Mais, estabelecendo uma analogia com a visão cristã do mundo, comparou este governo e o anterior aos anjos e demónios. Para além de ser extraordinário alguém classificar pessoas como José Sócrates, Mário Lino ou Paulo Campos de anjos, este paralelismo é, a todos os níveis, absurdo, além de revelar um sectarismo partidário desaconselhável a um membro da Igreja Católica.
É bem sabido que a Igreja estabeleceu desde cedo relações de proximidade com o PS. No período revolucionário, contra a ofensiva comunista e da extrema-esquerda, que ameaçava a democracia; mais tarde, porque o sector moderado do progressismo católico se acantonou naquele partido, sector esse visto com simpatia por parte da hierarquia,  fruto do posicionamento mais à esquerda de uns, bem como pelo desejo de uma demarcação rápida e ostensiva do Estado Novo de outros, mais facilmente assegurada por uma maior afinidade com os progressistas do que com os conservadores. Por outro lado, estando certa que jamais o PSD e o CDS lhe seriam hostis, porque partidos com eleitorado maioritariamente católico, a Igreja sempre namorou o PS, a unica força política da área da governação de onde poderiam partir ameaças à sua posição. Não sendo particularmente saudável esta relação, porque tendenciosa, ela assume, porém, proporções intoleráveis, quando a Igreja apoia notoriamente este partido. O quase silêncio da hierarquia em relação aos governos Sócrates que, ao legislar sobre o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, foram os executivos que mais feriram a Igreja desde os tempos de Afonso Costa e o contraste entre a parcimónia de comentários  sobre a política económica e social daqueles governos e as posições que em relação à coligação PSD/CDS se têm ouvido, permitem concluir que não existe nesta a exigível equidistância entre as forças políticas. Não deixa de ser verdade que a pobreza aumentou no último ano, mas não é menos verdade que tal é consequência da governação anterior, razão porque não é aceitável esta duplicidade de critérios.
 A Igreja não tem, nem deve ter, partido. E isso ficou claro, desde logo, numa passagem do Evangelho Segundo São Mateus. Parece, assim, sensato que alguns membros da hierarquia dispensem menos do seu tempo a fazer comentários televisivos e se ocupem mais da releitura das Sagradas Escrituras.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Rebelião conservadora



A rebelião de mais de cem parlamentares conservadores permitiu adiar a reforma da Câmara dos Lordes proposta pelo governo de coligação, chefiado pelo (pouco) conservador David Cameron, e que tinha por finalidade transformar a câmara alta do parlamento britânico num corpo eleito por sufrágio universal.
Esta reforma, a ser aprovada, subverte completamente este organismo, pois não só lhe dá uma legitimidade semelhante à Câmara dos Comuns - o voto - o que poderá criar conflitos entre ambas, mas também lhe retira o carácter de independência em relação aos humores da opinião pública de que os políticos eleitos estão cada vez mais reféns, independência essa que permite a existência no processo legislativo britânico de um saudável sistema de checks and balances, que assegura um maior equilíbrio e ponderação na elaboração das leis. Como alguém recentemente lembrava, num artigo publicado no Telegraph, durante o governo de Blair, a Câmara dos Comuns apenas por seis vezes chumbou projectos emanados do Executivo, enquanto a Câmara dos Lordes votou desfavoravelmente mais de quatrocentos, números reveladores da independência desta última.
Se a decisão de eliminar os pares hereditários, processo iniciado no consulado de Blair, desvirtuara já a vetusta instituição, como referi aqui, a reforma agora proposta - e em boa hora adiada - torna-a inútil porque redundante.

sábado, 7 de julho de 2012

Traição

Começa a surgir a ideia, alimentada por certos opinadores em blogues conotados com a direita, de que os funcionários públicos verão repostos os súbsídios de Natal e de férias à custa dos subsídios do sector privado, o que não só não é verdade, como pode criar entre os portugueses  - sim, porque antes de sermos trabalhadores do Estado, do privado, desempregados ou pensionistas, somos todos portugueses, convém lembrá-lo – uma divisão. Tentar dividir um povo é das coisas mais abjectas que se pode fazer e tem um nome – traição. Ver pessoas ditas de direita (sabem lá elas o que isso é), que tanto gostam de se reclamar patriotas,  fomentarem um clima animoso entre os filhos de uma mesma nação, é profundamente triste. Enquanto português que acredita nos verdadeiros valores da direita, sinto-me envergonhado.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

D. Manuel II


D. Manuel II, o último Rei de Portugal, morreu há precisamente oitenta anos, em Inglaterra, pátria de exilados, prematuramente, aos quarenta e dois anos.
Inesperadamente aclamado Rei, consequência da tragédia que se abateu sobre a sua família, D. Manuel, inexperiente e ainda muito jovem, foi chamado a cumprir a penosa e quase impossível tarefa de chefiar um Estado consumido pela corrupção moral e material, em bancarrota, cujo regime político mostrava claros sinais de esgotamento. Dois anos e alguns meses depois da sua aclamação, deu-se a primeira derrocada do regime constitucional liberal, que acabaria por ruir totalmente em 1926. Forçado ao exílio, desapossado de grande parte dos seus bens, viveu o resto da sua vida no cumprimento do régio dever de serviço à pátria, quer acompanhando atentamente a evolução da situação política portuguesa, quer, sobretudo, através do estudo dos livros antigos portugueses, em que se tornou especialista de renome.
Não regressou vivo à pátria que o expulsou, pois o regime republicano, por facciosismo, mas, acima de tudo, por insegurança, não permitiu que voltasse a pisar solo português. Deu-lhe funerais de Estado, é certo, mas nunca lhe fez justiça.
D. Manuel II era um homem culto, civilizado, discreto, digno, movido por uma sólida ética de serviço público. Não surpreende pois que tenha sido arredado do trono, porque Portugal sempre foi um país ingrato para com os seus melhores.