sexta-feira, 29 de julho de 2011

Coincidências




Meet the countries in the Triple-A debt club

Dos 17 países com um rating AAA, 11 são europeus ( excluo a Ilha de Man, território autónomo dependente da Coroa britânica ). Desses, 6 são monarquias... mera coincidência, certamente.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A culpa é nossa

Na cimeira europeia que ontem teve lugar ficou esboçado um futuro governo económico europeu que, a concretizar-se, significará uma perda, difícil ainda de avaliar, de soberania dos países mais pequenos e em situação económica mais débil, como Portugal. É lamentável esta transferência de parte dos poderes soberanos do Estado para as nações mais poderosas da UE, nomeadamente a Alemanha, mas uma coisa é certa: a culpa é sobretudo nossa. A nossa incapacidade de racionalizar uma despesa pública em galopante crescendo, sustento de um Estado sobredimensionado e muitas vezes ineficaz, aliada a uma economia que não cresce, consequência da pressão fiscal e da burocracia, mas também da falta de cultura de risco de uma elite empresarial provinciana e de estreitas vistas, temerosa do risco, criou a situação em que nos encontramos, retirando-nos margem de manobra negocial, mas também autoridade moral para contestar as propostas do eixo franco-alemão.
Desde o 25 de Abril passaram já quase quatro décadas, três das quais abonadas com fundos de Bruxelas mas, ainda assim, não conseguimos escapar, pela terceira vez, à intervenção externa. Em muito menos tempo a Europa e o Japão do pós-guerra reergueram-se das ruínas em que o conflito mundial os deixara. A Alemanha, dividida durante durante mais de quarenta anos, conseguiu em relativamente pouco tempo tornar-se a potência dominante no Velho Continente. E nós, porque falhámos? É verdade que nos desenvolvemos muito desde 1974, mas não conseguimos fazê-lo de uma forma sustentada, o que nos torna particularmente vulneráveis a abalos como a crise financeira de 2008. Vivemos acima das nossas possibilidades, gastámos, subsidiámos quase tudo e quase todos, concedemos privilégios e sinecuras aos milhares, sem cuidar de como pagaríamos a nossa liberalidade. Ou seja, construímos um palácio sobre estacas, que ruíram sob o peso insuportável que sustentavam.
Agora, sem dinheiro e sem razão, temos que ceder àqueles que nos salvarão da bancarrota parte de soberania que, infelizmente, não soubemos usar. Paciência.

domingo, 17 de julho de 2011

Requiem pela Europa



O funeral do Arquiduque Otto de Habsburgo, neste contexto de crise da União Europeia - de que foi um entusiasta - e de declínio político, económico, militar e ético da Europa, simboliza, de certa forma, as exéquias do Velho Continente, de cuja grandeza pretérita a dinastia a que o ilustre defunto pertencia era um dos seus símbolos maiores.

Rude Britannia

O escândalo das escutas que presentemente abala o Reino Unido envolvendo, segundo se suspeita, o próprio chefe da Metropolitan Police, é mais um exemplo da degradação da sociedade britânica. No ano passado foi a vez dos parlamentares, representantes da mais sólida e emblemática instituição inglesa, contribuirem para o desastre com o desprestigiante caso do financiamento público de despesas pessoais. Nas ruas, a violência expande-se, fazendo do país o mais violento da Europa. A imagem típica do inglês deixou de ser a do gentleman e passou a ser a do Asbo, do indivíduo grosseiro e conflituoso, de fato de treino e boné, com uma lata de cerveja numa mão e um cigarro na outra.
O que se passa com a Grã-Bretanha, modelo de respeito pela lei, pela politeness, veneradora das suas vetustas instituições e do seu passado?
Onde está a Velha Albion de Peel, Disraeli, Melbourne e Churchill? Possivelmente enclausurada nas paredes de um club, numa das derradeiras residências senhoriais ainda não transformadas em hotéis para russos e americanos milionários ou algures numa aldeia perdida no countryside, a definhar, nostálgica e desiludida, entretida a ler Kipling ao som da música de Elgar.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Um post politicamente incorrecto

Nos últimos dias parece ter-se tornado um imperativo patriótico zurzir as agências de rating, em particular a Moody's. Admito que estas estejam a prejudicar deliberadamente o Euro para benefício de alguns clientes e, sobretudo, para proteger o dólar o que, a ser verdade, configura um crime de fraude que terá que ser punido. Mas é preciso prová-lo.
O que não carece de prova é a grave situação das finanças públicas e da economia portuguesas. Factos são factos: só entre Janeiro e Maio a despesa aumentou 13 mil milhões de euros e o Banco de Portugal prevê que a economia decresça 2% este ano e 1,8% em 2012, sendo que o nosso país será o único no mundo em recessão no próximo ano. Acresce que a única medida de fundo até agora anunciada pelo novo Governo foi o imposto extraordinário sobre o subsídio de Natal, um mau sinal, pois, ao invés de começar por atacar a despesa, o Executivo apressou-se a recorrer à forma mais fácil - mas também a mais danosa - de atacar a dívida, ou seja, aumentar a receita através do fisco.
Não quero desculpar as agências de rating, sobre as quais tenho sérias reservas, mas, em face destes desastrosos indicadores, que servem de base às suas análises, não é de espantar que revejam em baixa a nossa classificação. Por isso, mais do que nos queixarmos delas, temos que começar a arrumar a casa. Só assim poderemos dar uma bofetada com luva de pelica nas fuças da Moody's.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Uma questão de justiça



No próximo dia 5 passam cem anos da morte da Rainha D. Maria Pia, que se despediu da vida no exílio, na sua Itália natal.
Apesar de ter sido Rainha de Portugal e de ter residido no nosso país durante grande parte da sua vida, os restos mortais da soberana permanecem no panteão dos Sabóia, em Turim. Durante o Estado Novo, vários monarcas falecidos no estrangeiro puderam descansar em Portugal. D. Manuel II, que morreu em Inglaterra em 1932, regressou ao seu país, onde teve funerais de Estado, o mesmo sucedendo a sua mãe, a Rainha D. Amélia, falecida em França em 1951. E até D. Miguel, um rei polémico, foi sepultado no Panteão Real dos Bragança, por ocasião do centenário da sua morte, em 1966.
Não se compreende, pois, que D. Maria Pia não tenha merecido ainda tal homenagem que se impõe, sobretudo, como um acto de justiça para com uma distinta senhora que serviu Portugal durante quase cinco décadas. Talvez tal se deva à indiferença das autoridades, talvez decorra de um certo anti-monarquismo jacobino que domina uma parte da nossa elite política e burocrática. Qualquer que seja a razão, porém, é lamentável que a consorte de D. Luis I não possa, cem anos volvidos, descansar eternamente junto de seu marido, de seus filhos e de seus netos.
A ingratidão continua a ser um defeito muito português, infelizmente.