sexta-feira, 22 de julho de 2011

A culpa é nossa

Na cimeira europeia que ontem teve lugar ficou esboçado um futuro governo económico europeu que, a concretizar-se, significará uma perda, difícil ainda de avaliar, de soberania dos países mais pequenos e em situação económica mais débil, como Portugal. É lamentável esta transferência de parte dos poderes soberanos do Estado para as nações mais poderosas da UE, nomeadamente a Alemanha, mas uma coisa é certa: a culpa é sobretudo nossa. A nossa incapacidade de racionalizar uma despesa pública em galopante crescendo, sustento de um Estado sobredimensionado e muitas vezes ineficaz, aliada a uma economia que não cresce, consequência da pressão fiscal e da burocracia, mas também da falta de cultura de risco de uma elite empresarial provinciana e de estreitas vistas, temerosa do risco, criou a situação em que nos encontramos, retirando-nos margem de manobra negocial, mas também autoridade moral para contestar as propostas do eixo franco-alemão.
Desde o 25 de Abril passaram já quase quatro décadas, três das quais abonadas com fundos de Bruxelas mas, ainda assim, não conseguimos escapar, pela terceira vez, à intervenção externa. Em muito menos tempo a Europa e o Japão do pós-guerra reergueram-se das ruínas em que o conflito mundial os deixara. A Alemanha, dividida durante durante mais de quarenta anos, conseguiu em relativamente pouco tempo tornar-se a potência dominante no Velho Continente. E nós, porque falhámos? É verdade que nos desenvolvemos muito desde 1974, mas não conseguimos fazê-lo de uma forma sustentada, o que nos torna particularmente vulneráveis a abalos como a crise financeira de 2008. Vivemos acima das nossas possibilidades, gastámos, subsidiámos quase tudo e quase todos, concedemos privilégios e sinecuras aos milhares, sem cuidar de como pagaríamos a nossa liberalidade. Ou seja, construímos um palácio sobre estacas, que ruíram sob o peso insuportável que sustentavam.
Agora, sem dinheiro e sem razão, temos que ceder àqueles que nos salvarão da bancarrota parte de soberania que, infelizmente, não soubemos usar. Paciência.

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