domingo, 9 de outubro de 2011

A Colecção do Comendador Berardo

Está em discussão a avaliação da Colecção Berardo pela Sotheby's, cujo valor apurado em 2006 pela leiloeira Christie's, era de 316 milhões de Euros. Independentemente da pertinência de uma nova avaliação, a questão que se devia colocar era a da conveniência da compra pelo Estado deste acervo. Se a nova avaliação se aproximar do valor referido ( e é possível que o supere, pois o mercado da arte está em expansão com a entrada de novos e muito endinheirados investidores, oriundos dos países emergentes, sendo sistematicamente quebrados recordes nos valores atingidos quer em leilões, quer em vendas directas ) a compra é, no mínimo insensata. Se tivermos em conta que o orçamento do Ministério da Cultura em 2011 foi de 215,5 milhões de Euros, a compra da colecção implicará um investimento - por parte de um Estado falido, lembre-se - correspondente a cerca de 150% da dotação orçamental para a Cultura. Com tantas carências neste sector, sempre remetido por uma elite política pouco culta à condição de parente pobre, fará sentido esta aquisição? Mais: se tivermos em conta que as transferências do Estado para a Fundação Berardo, entre 2007 e 2010, foi de 26,5 milhões de Euros ( seria interessante saber como foi aplicado este dinheiro ), como poderá o Estado assegurar a manutenção desta colecção que, pelos vistos, requer recursos desta monta? Quantos monumentos e imóveis de interesse público poderiam ser restaurados com cerca de 300 milhões de euros? Quantas temporadas dos teatros nacionais poderiam ser asseguradas com semelhante verba? E deverá o espaço expositivo do CCB manter-se como casa para este espólio, tendo em conta que a sua finalidade original era a de albergar exposições temporárias?
Não me sinto competente para aquilatar a relevância da Colecção Berardo, porém - sobretudo no presente contexto de miséria em que vivemos - a sua compra não me parece razoável.

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