terça-feira, 28 de junho de 2011

"Um lugar para cada um, cada um no seu lugar"

É curioso que para alguns bloggers de esquerda, o local de residência do actual primeiro-ministro – a suburbana localidade de Massamá – seja motivo de chacota. Supostos defensores da igualdade, de que ninguém deve ser descriminado em função das suas origens sociais, da sua situação económica, etnia, religião ou orientação sexual, a esquerda deixa cair a máscara hipócrita ao criticar Passos Coelho - com uma provinciana soberba social, muito típica da nossa elite periférica - por não viver na Costa do Castelo, no bairro da Lapa ou nas Avenidas Novas. Consideram que Passos não é um dos seus, porque não vive nos bairros lisboetas da classe média alta, não frequenta os lugares que consideram obrigatórios, não leu ou, pelo menos, não cita – para mostrar que leu – os autores por eles consagrados, não frequenta os festivais de cinema ou teatro que organizam sobretudo para si mesmos.
Esta arrogância social não é nova. Também Salazar e Cavaco Silva – ambos oriundos de meios modestos e pouco dados às mundanidades – foram alvo da ironia verrinosa da esquerda iluminada indígena, que os consideravam provincianos, incultos e pouco urbanos.
Para a esquerda “culta” que pulula pela blogosfera, a mobilidade social só é aceitável desde que não ameace o seu predomínio, o seu auto-atribuído estatuto, desde que a plebe não ouse ascender às posições que eles – ao estilo da mais reaccionária aristocracia – consideram ser naturalmente seus.
No seu ethos discriminatório e socialmente exclusivista, a intelligentzia nativa pouco difere, pois, do autor da frase que dá título a este post, Carneiro Pacheco, o ultraconservador ministro da Educação Nacional do Governo do "rústico" de Santa Comba.

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