quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A revolta


Mário Soares, num artigo publicado no Diário de Notícias de ontem, referiu-se - e bem - ao descontentamento larvar que se sente na sociedade portuguesa com a crise económica, o aumento do desemprego e o descrédito das instituições. O diagnóstico é correcto. Todavia, conclui que a insatisfação dos portugueses "tem demasiadas componentes prestes a explodir". Depreendo destas palavras que o Dr. Soares prevê, perante uma agudização da crise, possíveis situações de violência. Discordo. Os portugueses, quando não encontram meios de subsistência, não se revoltam, emigram. É assim há mais de 500 anos. Expandimo-nos pelo mundo nos séculos XV e XVI, entre outras razões, porque não havia lugar para todos no nosso exíguo rectângulo. Em finais de oitocentos, procurámos o Brasil, para fugir de um país em bancarrota e escassamente industrializado. Nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado buscámos melhor sorte no Ultramar, na Europa, nos Estados Unidos, pois no Portugal dos pequeninos do Dr. Salazar eram poucas as oportunidades de escapar à pobreza.
Actualmente, verifica-se o mesmo fenómeno. O número de cidadãos emigrados não pára de aumentar; gente de todas as sortes, do operário desempregado ao licenciado condenado à fatalidade do call center, muitos são os que seguem o exemplo dos seus avós e deixam o país em que nasceram.
Não tem pois o Dr. Soares razões para se preocupar. A emigração é a válvula de escape secular que evita a revolta... e, consequentemente, diga-se, o seguro de vida de muitas gerações de dirigentes políticos portugueses

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