terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Mexam-se, meus senhores!

É impressionante a passividade da comunidade universitária em relação à política de tábua rasa do Governo em relação ao ensino superior. Desprovendo de meios as universidades, com as restrições orçamentais e a diminuição do número de bolsas, mostrando desconfiança em relação à qualidade da investigação produzida em Portugal, ao promover a imigração de cientistas estrangeiros ao mesmo tempo que empurra para a emigração os cientistas nacionais, a comunidade docente limita a sua reacção a uns inconsequentes abaixo-assinados e a artigos de variável contundência verbal publicados na imprensa. Ora os professores e dirigentes das universidades são uma elite logo, nessa qualidade, têm o dever de combater de forma mais determinada e, sobretudo, coordenada as orientações que estão a ser seguidas. É o momento de perceberem que as querelas de prima-dona que frequentemente os dividem prejudicam uma acção concertada em defesa de um interesse que é comum e que, por isso mesmo, impõe unidade. É o momento de agirem consequentemente enquanto elite, logo, enquanto grupo com excepcionais responsabilidades em relação aos destinos da nação. Não faz sentido que se fale de sociedade civil ou de reforço da autonomia universitária quando perante políticas erradas e de resultados nefastos, todos se demitem, manietados pela ideia errada, mas generalizada, de que a gestão da res publica é um foro exclusivo dos políticos. Quanto aos alunos, acham que o assunto nada tem que ver com eles desde que no fim do curso lhes passem um diploma para pendurar na parede do quarto e encher de orgulho as mães, dispensando mais tempo na discussão das praxes do que na qualidade do ensino que lhes é ministrado ou no futuro que o país lhes oferece Para estes, é o momento de agirem em defesa da qualidade da Universidade, pois o diploma mais não é do que um bonito papel, cuja validade depende da valia dos conhecimentos que atesta. É o momento de exigirem que o investimento que fazem, em esforço e em dinheiro, tenha retorno na formação e nas capacidades adquiridas. Afinal de contas, isto acaba por ter o seu quê de tristemente irónico: a Universidade, que tanto se queixou das limitações à liberdade que o Estado Novo lhe impôs, agora que finalmente a tem, abdicou de lhe dar uso.

Sem comentários: