A lista de precedências da Família Real inglesa foi recentemente revista pela Rainha Isabel II para nela integrar o seu mais recente membro, a Duquesa de Cambridge. Estes preceitos protocolares parecem, nos tempos igualitários em que vivemos, uma bizantinice anacrónica e incompreensível aos olhos da maioria.
Não encaro a questão assim. Em primeiro lugar - numa perspectiva algo romântica, admito, mas nem por isso menos legítima – considero o que o anacronismo tem o seu encanto, ao evocar uma sociedade que não existe mais, com uma linguagem simbólica muito própria, subtil e galante.
Por outro lado, a existência destes preceitos protocolares assume maior importância se encarados enquanto representação de dois valores que entendo tanto mais relevantes quanto mais vilipendiados têm sido: a tradição e a continuidade. A Monarquia é uma representação viva e actuante da História, garante um continuum entre o passado e o presente, é por assim dizer, uma presentificação do passado. Por outro lado, no caso concreto das precedências, estas remetem para uma ideia de estabilidade e permanência. Numa sociedade em constante e acelerada mutação, a existência de preceitos perenes transmite uma confortável sensação de segurança: cada um sabe qual o seu lugar e o que esperar dos outros. Numa analogia teatral, que aqui parece fazer todo o sentido, todos têm uma marcação bem definida no palco social, não há lugar à improvisação, à imprevisibilidade. É reconfortante saber que algumas coisas não mudam num mundo – como dizia Camões - composto de mudança e que constantemente assume novas qualidades.
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