As imagens de entusiasmo e alegria que marcam os grandes acontecimentos da Monarquia britânica causam-me sempre uma certa frustração e – porque não dizê-lo – uma ponta de inveja. De facto, a Coroa assumiu desde os tempos da Rainha Vitória a representação da identidade nacional, do espírito de comunidade que une os falantes da língua inglesa – mesmo, até certo ponto, os norte-americanos -, que partilham uma história e uma cultura comuns. Este cimento que mantém unidos milhões de seres humanos de continentes, etnias, religiões, extractos económicos e sociais diversos, é uma mais-valia preciosa.
O sentimento de pertença a uma entidade que nos transcende - que já existia quando nascemos e que perdurará após a nossa morte – e que cria laços com os nossos vizinhos, é fundamental para os combates com que colectivamente nos defrontamos. Uma nação cujos membros não sintam vínculos entre si mais não é, pois, que um agregado de indivíduos, cada um preocupado apenas consigo o que, sobretudo em momentos de crise – que exigem sacrifício e solidariedade – torna particularmente difícil a sua superação.
Em Portugal, infelizmente, nenhuma instituição desempenha semelhante função congregadora. O nosso país não tem uma mitologia nacional estruturada, consequência não apenas da ausência de cultura cívica da população, mas também dos complexos pós-25 de Abril que, estupidamente, associaram qualquer forma de nacionalismo ao Estado Novo. Por isso, e com grande pena minha, jamais poderemos assistir a eventos como os que tiveram lugar no Reino Unido nos últimos dias nem, temo bem, conseguiremos sair por meios próprios da crise em que todos os dias mergulhamos um pouco mais.
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