Blogue de um conservador à maneira de Pessoa "de estilo inglês, isto é, liberal dentro do conservatismo"
terça-feira, 3 de maio de 2011
Cenas de um casamento
O casamento dos Duques de Cambridge revelou um pouco mais acerca da discreta pessoa do Príncipe William. Parco em palavras, como se espera das pessoas reais, pouco se sabe a respeito do que pensa, embora muito se escreva sobre o assunto.
É voz corrente, entre os que se pronunciam sobre o filho do Príncipe de Gales, que é um homem de ideias avançadas e que, uma vez aclamado, revolucionará a - ainda em muitos aspectos - vitoriana monarquia inglesa. Discordo.
Ora, porque o pensamento do Príncipe não é conhecido, apenas especulado, procurei ver no casamento sinais da sua sensibilidade e da sua forma de conceber a instituição que, a seu tempo, chefiará, e cheguei a conclusões bem diversas.
A cerimónia foi sóbria, mas solene, digna, portanto, da instituição que o Príncipe representa. Nas escolhas musicais, foram eleitos alguns dos mais famosos compositores ingleses dos Sécs. XIX e XX e que traduziram em linguagem musical as grandezas da nação britânica e do seu império em peças impetuosas e triunfalistas: Elgar, Stanford, Parry, William Walton. Destaco em particular o hino de Parry – Jerusalem – para muitos o hino não-oficial de Inglaterra, o I was Glad, que acompanhou a entrada de Kate Middleton na Abadia de Westminster, peça que é tradicionalmente tocada no percurso do soberano até ao altar nas cerimónias de coroação ou o Crown Imperial, de Walton, marcha triunfal intepretada no final da cerimónia e que foi composta para a coroação de Eduardo VIII e interpretada pela primeira vez na coroação de seu irmão – Jorge VI – em 1937.
Na decoração da Abadia, prevaleceu o verde de enormes arbustos que deram alguma cor às paredes escurecidas pelo tempo, evocando, possivelmente, a paisagem rural britânica – a green a pleasant land de que fala o poeta William Blake, no poema Jerusalem que Parry musicou e a que acima me referi – de que o Príncipe de Gales tem sido persistente defensor, causa que William parece partilhar com o seu pai.
Assim, além da sobriedade da cerimónia – que parece revelar a natureza discreta dos noivos, mas também a consciência das dificuldades por que presentemente passam muitos dos seus compatriotas - pode destacar-se a sua convencionalidade e, arrisco até, o seu conservadorismo. Não houve inovações, a escolha musical parece decalcada do programa do último concerto dos Proms – e, sobretudo, Elton John fez o favor de permanecer calado desta vez. A decoração, sendo talentosa, não foi arrojada e o próprio vestido da noiva revelou uma enorme sensatez: particularmente elegante, era discreto e despretencioso, o que demonstrou, por parte da noiva, a consciência das suas origens, pois se Kate Middleton saiu da Abadia princesa, não foi nessa condição que lá entrou.
Em nenhum momento da cerimónia vi indícios de rebeldia ou de ruptura com a tradição. Tudo me pareceu ser como sempre foi. E é assim que deve continuar a ser. God bless William for that!
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