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É particularmente irritante o discurso depressivo-conformista que tomou conta do espaço público neste país. Todos os dias somos bombardeados dezenas de vezes com as palavras crise, austeridade, pobreza. A comunicação social parece padecer de uma monomania, tudo serve de pretexto para falar da crise, os programas de televisão ensinam-nos a poupar no vestuário, nas férias, a regrar as contas domésticas, a cozinhar pratos módicos; a publicidade também não escapa à tendência, divulgando produtos com desconto, cabazes de compras, tudo supostamente destinado a amenizar os efeitos da austeridade nas bolsas das famílias.
Reabilitámos, portanto, a imagem salazarista do povo pobrezinho e resignado com a sua condição. Aceitamos a miséria, pronto, é a vida. Acresce que, além de termos que acatar com passividade bovina a pobreza, temos também que estar tristes e deprimidos. Diariamente aparecem histórias de famílias insolventes, do crescente recurso às ajudas sociais, do aumento do consumo de anti-depressivos. Ao menos, no tempo de Salazar – com proverbial hipocrisia, é certo – falava-se da pobreza alegre – “pobrete mas alegrete” dizia o povo – do pão e vinho sobre a mesa, o bastante para uma felicidade modesta.
Não iremos longe se persistirmos nesta obcessão colectiva. A crise existe, é grave, é para levar a sério, sentimo-la diariamente. Temos menos dinheiro, é certo, não podemos pagar extravagâncias, sabemo-lo bem, mas não é carpindo mágoas que damos a volta a isto. Confesso-me cansado do rosário de penas que desfiamos diariamente nesta ladaínha colectiva. Admito, porém, que de toda esta pretensa pedagogia sobre a crise, retive uma lição, que aplico disciplinadamente: poupo na electricidade não vendo televisão.